segunda-feira, março 26, 2007

VIVA O JAZZ NOS AÇORES!

ANGRAJAZZ. Desde o seu início (1999) que lá estou. Militantemente, viciadamente, saborosamente…
Nem podia deixar de ser de outra forma. Chegado de outros mundos encontrei o prazer do mundo nos claustros do Museu de Angra. Contrariando a geografia um «quarteto» (Bruno Walter Ferreira, João Pedro Mont’Alverne, José Ribeiro Pinto e Miguel Cunha) quis que no Atlântico se swingasse ao vivo…e conseguiu.
Grande qualidade, diversidade, contribuição para o desenvolvimento do gosto pelo jazz, forte componente didáctica, grande rigor financeiro…assim se anunciavam os princípios do 2.º Festival já institucionalizado na Associação Cultural Angrajazz.
Rodos de mainstream, free, fusão, dixie, consagrados e promessas da Down Beat… todos projectam o Mundo nos Açores e os Açores no Mundo.
Algo sem preço é poder folhear a JazzMan ou a JazzMagazine e ler nos roteiros: Angra do Heroísmo.
Já ganhou um público fiel. Já ganhou o fiel público, a Cidade e os Açores. O Festival cresceu e, ao 5.º, passou dos claustros do Museu aos palcos do Centro Cultural, perdendo o ambiente descontraidamente jazzy mas ganhando espaço e acústica.
As sementes para uma Big Band, lançadas em 2002, germinaram uma actividade local e a Orquestra Angrajazz que, com esforço e entusiasmo, em 2006, fez a sua primeira gravação.
(Z) concebido como um dos pilares do mito «Angra, capital açoriana da cultura», o Angrajazz é o princípio da certeza: a Cultura e o Jazz amam-se, nos Açores, em Outubro.
(Z) procurem-nos, nas mesas junto ao palco, onde estarão a celebrar a, já incontornável, entrada de Ribeiro Pinto…Viva o Jazz nos Açores!

Publicado na Revista :Ilhas #19 BestOf

domingo, março 18, 2007

ISTO NÃO É UM ARTIGO

O título podia ser «Eu, blogger me confesso» ou «Em busca do blogarquipélago perdido», mas, cedo, compreendi que falar de blogues, nos Açores, é coisa surreal que dista do dia-a-dia do insular médio mais que os jornais. Por ora, coisas de blogues são coisas de bloggers. Rapazes pequenos que não têm que fazer? Isso, não! Pelo menos na opinião de milhões à escala global. Neste momento, convém fazer uma declaração de interesses: tenho um blogue e o endereço é http://chaverde.blogspot.com/
Entretanto, também, notei que o primeiro parágrafo tem três palavras anormais, ou paranormais, talvez uma primeira impressão do espírito blogger. Falar de blogues como o matemático de teoremas ou o músico de colcheias. As expressões blog, blogger e blogarquipélago, são tão elitistas que ou as explico, ou mais vale não continuar. “Blog”: página disponível na internet (net) actualizada com alguma regularidade por um indivíduo (blogger), ou mais, com temáticas à sua escolha. Por dia, nascem e morrem milhões; “Blogarquipélago”: rede dos blogues feitos nos Açores.
E, para que serve um blog? Em primeira análise, serve o ego do blogger. Pois é! Sou um egocêntrico arrogante. Publicar, diariamente, algo na net (ou “postar” na linguagem blogger) e esperar que os outros queiram ler é de uma arrogância escandalosa. É matricialmente subjectivo porque depende dos interesses do criador. Mas não só. É, também, uma utopia colectiva. Sendo um instrumento poderoso, como são todas as formas de comunicação de massa (a mais barata que o cidadão tem ao seu dispor: acessível a quem/para quem, tenha computador e net - números a crescer na proporção inversa aos que lêem/vêem jornais e tv -, com reduzidos custos na manutenção - basta a mensalidade da net pois as ferramentas de criação são gratuitas -, sem requerer, excepcional, domínio informático), o blog terá tanto mais poder quanto maior o grau de intervenção na vida da comunidade (durante as autárquicas proliferaram no Pico com visitas médias que envergonhavam qualquer blog de referência). Não me convencem que o relato do quotidiano tem mais poder do aquele que já deriva do voyerismo da sociedade moderna (o que já não é pouco). É o blog «janela indiscreta». Mas há blogues temáticos, políticos, culturais, «bota-abaixo», individuais ou colectivos (o :Ilhas é o melhor blog açoriano, alimentado por cinco bloggers, o Fôguetabraze, o mais antigo, é individual), anónimos ou não, com música e/ou imagem, com ligações a outras páginas e outros blogues. Os mais visitados são os que intervêm. É o poder do blogger. E a sua utopia. Primeira pergunta a fazer: como intervir neste espaço público? Grandes e micro-causas, causas pessoais? A crítica é um caminho usual. Há liberdade e licenciosidade. Os benefícios superam, claramente, os malefícios. O serviço público, aliado ao prazer, se for a opção, como penso dever ser, tem variáveis: denúncia, alerta, explicação, informação, disponibilização, facilitação. Os melhores blogues não são inimigos, talvez sejam da mediocridade e da incompetência (o alvo são os políticos, os jornais e os artistas), procuram a qualidade e disponibilizam-na, predispõem-se ao debate, muitas vezes, como especialistas, ajudam à formação ou sedimentação da opinião. Não substituem livros ou conhecimento, são preciosos nas indicações e fundamentais na responsabilização. Não são panaceia para os males da democracia sem participação, nem varinha mágica da cidadania. Podem ajudar. Sérios, mas não demasiado. Finalmente, o Blogarquipélago existe? A realização de encontros nas Furnas, e em Angra, e a sua divulgação na comunicação social, pode fazer crer que sim. Tenho dúvidas. Existem blogues, são precisos muitos mais e melhores. O blog não é uma normalidade na vida azorica. O virtual é espaço da geração que aí vem mas que está a crescer para/na polis. Os blogues não cumprem o seu potencial, cumprimentam-se. Escrevem na rede, mas não inscrevem uma rede. Nos blogues como nas ilhas? Talvez, ainda…

Sé, 12 de Março de 2007

domingo, março 04, 2007

ACADÉMICOS

A sentença foi: “A união entre a Madeira e os Açores está ferida”. A teoria que a sustenta é que se “entrou num novo capítulo do processo autonómico, onde cada região irá falar individualmente com Lisboa”. A prognose que se fez foi de que: “nada será como dantes…, haverá sempre ressentimentos. Daí que sejam previsíveis efeitos nefastos no futuro para ambas”. Este foi o contributo dos Académicos, Carlos Cordeiro e Carlos Amaral, da nossa Universidade dos Açores, com destaque em letra gorda na primeira página do Diário Insular de 22 de Fevereiro último. Até me vieram lágrimas aos olhos, noites seguidas sem dormir. O que ia ser da autonomia açoriana perdida para sempre da união como os «nossos irmãos» madeirenses? Mas eis que antevi uma luz, outro Académico, Vasco Garcia que, no Açoriano Oriental de 26 de Fevereiro, nos lembrava:”As finanças regionais permitiram a abertura da brecha na muralha da solidariedade insular, como quase tinham conseguido no passado. É bom recordar que foi a sensatez do Presidente Mota Amaral que evitou males piores, quando foi necessário abdicar a favor da Madeira de uma grossa fatia de fundos estruturais da CEE para a construção do aeroporto madeirense de Santa Catarina. Que custou – é igualmente oportuno lembrar – mais de 100 milhões de contos”. Ah! Afinal, há precedentes. Há precedentes e há créditos. Há uma solidariedade que parece ser entendida pelos governantes madeirenses como unilateral. Mas há mais, há uma tradição autonómica constitucional e estatutária por parte dos Açores da qual a Madeira tem usufruído. Unidos? Sim, pelo quadro constitucional, não pela prática, não na forma nem nas perspectivas. E que «Cabo das Tormentas» será esse da desunião? Acaso a Flandres espera pela Valónia? Terão a Catalunha, o País Basco, a Galiza ou as Canárias essas considerações pelas demais comunidades espanholas? Acaso a Lombardia aguarda pelas suas regiões «irmãs» italianas? Não, nem consta que as autonomias políticas regionais na Bélgica, Espanha e Itália estejam a definhar. Não consta nem pode constar da dinâmica que integra o ADN das autonomias políticas já maduras. O que se deseja, e se conseguiu, com a revisão constitucional de 2004, é uma nova perspectiva das autonomias portuguesas (um 4.º movimento) em que as duas regiões trilharão caminhos diversos porque elas próprias diversas nas suas naturezas, prioridades e perspectivas. Já chegamos com algum atraso a esta «movida» europeia. E se formos por esse caminho também nele encontraremos as suas variantes, compensações e instrumentos institucionais de diálogo bilateral entre Regiões. Lembro o que, neste jornal, escrevi a 23 de Outubro de 2005:
Uma das peças-chave para que se possam retirar todas as vantagens dos instrumentos de cooperação entre Regiões radica na existência de uma determinada infra-estrutura organizativa: em particular da criação e funcionamento de órgãos de reunião entre governos autónomos. Se é verdade que a colaboração é espontânea, a sua implementação depende e muito da existência de plataformas com funcionamento regular para onde se canalize a vontade de cooperar. Estes locais de diálogo impulsionam o motor da cooperação já que dinamizam o trabalho de conferências sectoriais e formalizam um elevado número de protocolos nas mais diversas áreas. Estes fóruns são, igualmente, úteis porque rompem a sectorialização em muitos casos excessiva dos processos de negociação, podendo contribuir para criar uma rede de relações a longo prazo e com ela consolidar os processos de cooperação. É esta estabilidade que propicia a implantação de uma dinâmica cooperativa nas relações entre diferentes instâncias, acima das conjunturas políticas e das trocas nos centros de poder inerentes à própria lógica dos sistemas democráticos”.
Ou seja, recorrendo ao método científico que os Académicos ensinam: perante o problema, propomos a hipótese, olhamos a experiência e formamos uma teoria com soluções objectivas. Até parece simples…

Ponta Delgada, 26 de Fevereiro de 2007