ISTO NÃO É UM ARTIGO
O título podia ser «Eu, blogger me confesso» ou «Em busca do blogarquipélago perdido», mas, cedo, compreendi que falar de blogues, nos Açores, é coisa surreal que dista do dia-a-dia do insular médio mais que os jornais. Por ora, coisas de blogues são coisas de bloggers. Rapazes pequenos que não têm que fazer? Isso, não! Pelo menos na opinião de milhões à escala global. Neste momento, convém fazer uma declaração de interesses: tenho um blogue e o endereço é http://chaverde.blogspot.com/
Entretanto, também, notei que o primeiro parágrafo tem três palavras anormais, ou paranormais, talvez uma primeira impressão do espírito blogger. Falar de blogues como o matemático de teoremas ou o músico de colcheias. As expressões blog, blogger e blogarquipélago, são tão elitistas que ou as explico, ou mais vale não continuar. “Blog”: página disponível na internet (net) actualizada com alguma regularidade por um indivíduo (blogger), ou mais, com temáticas à sua escolha. Por dia, nascem e morrem milhões; “Blogarquipélago”: rede dos blogues feitos nos Açores.
E, para que serve um blog? Em primeira análise, serve o ego do blogger. Pois é! Sou um egocêntrico arrogante. Publicar, diariamente, algo na net (ou “postar” na linguagem blogger) e esperar que os outros queiram ler é de uma arrogância escandalosa. É matricialmente subjectivo porque depende dos interesses do criador. Mas não só. É, também, uma utopia colectiva. Sendo um instrumento poderoso, como são todas as formas de comunicação de massa (a mais barata que o cidadão tem ao seu dispor: acessível a quem/para quem, tenha computador e net - números a crescer na proporção inversa aos que lêem/vêem jornais e tv -, com reduzidos custos na manutenção - basta a mensalidade da net pois as ferramentas de criação são gratuitas -, sem requerer, excepcional, domínio informático), o blog terá tanto mais poder quanto maior o grau de intervenção na vida da comunidade (durante as autárquicas proliferaram no Pico com visitas médias que envergonhavam qualquer blog de referência). Não me convencem que o relato do quotidiano tem mais poder do aquele que já deriva do voyerismo da sociedade moderna (o que já não é pouco). É o blog «janela indiscreta». Mas há blogues temáticos, políticos, culturais, «bota-abaixo», individuais ou colectivos (o :Ilhas é o melhor blog açoriano, alimentado por cinco bloggers, o Fôguetabraze, o mais antigo, é individual), anónimos ou não, com música e/ou imagem, com ligações a outras páginas e outros blogues. Os mais visitados são os que intervêm. É o poder do blogger. E a sua utopia. Primeira pergunta a fazer: como intervir neste espaço público? Grandes e micro-causas, causas pessoais? A crítica é um caminho usual. Há liberdade e licenciosidade. Os benefícios superam, claramente, os malefícios. O serviço público, aliado ao prazer, se for a opção, como penso dever ser, tem variáveis: denúncia, alerta, explicação, informação, disponibilização, facilitação. Os melhores blogues não são inimigos, talvez sejam da mediocridade e da incompetência (o alvo são os políticos, os jornais e os artistas), procuram a qualidade e disponibilizam-na, predispõem-se ao debate, muitas vezes, como especialistas, ajudam à formação ou sedimentação da opinião. Não substituem livros ou conhecimento, são preciosos nas indicações e fundamentais na responsabilização. Não são panaceia para os males da democracia sem participação, nem varinha mágica da cidadania. Podem ajudar. Sérios, mas não demasiado. Finalmente, o Blogarquipélago existe? A realização de encontros nas Furnas, e em Angra, e a sua divulgação na comunicação social, pode fazer crer que sim. Tenho dúvidas. Existem blogues, são precisos muitos mais e melhores. O blog não é uma normalidade na vida azorica. O virtual é espaço da geração que aí vem mas que está a crescer para/na polis. Os blogues não cumprem o seu potencial, cumprimentam-se. Escrevem na rede, mas não inscrevem uma rede. Nos blogues como nas ilhas? Talvez, ainda…
Sé, 12 de Março de 2007
Entretanto, também, notei que o primeiro parágrafo tem três palavras anormais, ou paranormais, talvez uma primeira impressão do espírito blogger. Falar de blogues como o matemático de teoremas ou o músico de colcheias. As expressões blog, blogger e blogarquipélago, são tão elitistas que ou as explico, ou mais vale não continuar. “Blog”: página disponível na internet (net) actualizada com alguma regularidade por um indivíduo (blogger), ou mais, com temáticas à sua escolha. Por dia, nascem e morrem milhões; “Blogarquipélago”: rede dos blogues feitos nos Açores.
E, para que serve um blog? Em primeira análise, serve o ego do blogger. Pois é! Sou um egocêntrico arrogante. Publicar, diariamente, algo na net (ou “postar” na linguagem blogger) e esperar que os outros queiram ler é de uma arrogância escandalosa. É matricialmente subjectivo porque depende dos interesses do criador. Mas não só. É, também, uma utopia colectiva. Sendo um instrumento poderoso, como são todas as formas de comunicação de massa (a mais barata que o cidadão tem ao seu dispor: acessível a quem/para quem, tenha computador e net - números a crescer na proporção inversa aos que lêem/vêem jornais e tv -, com reduzidos custos na manutenção - basta a mensalidade da net pois as ferramentas de criação são gratuitas -, sem requerer, excepcional, domínio informático), o blog terá tanto mais poder quanto maior o grau de intervenção na vida da comunidade (durante as autárquicas proliferaram no Pico com visitas médias que envergonhavam qualquer blog de referência). Não me convencem que o relato do quotidiano tem mais poder do aquele que já deriva do voyerismo da sociedade moderna (o que já não é pouco). É o blog «janela indiscreta». Mas há blogues temáticos, políticos, culturais, «bota-abaixo», individuais ou colectivos (o :Ilhas é o melhor blog açoriano, alimentado por cinco bloggers, o Fôguetabraze, o mais antigo, é individual), anónimos ou não, com música e/ou imagem, com ligações a outras páginas e outros blogues. Os mais visitados são os que intervêm. É o poder do blogger. E a sua utopia. Primeira pergunta a fazer: como intervir neste espaço público? Grandes e micro-causas, causas pessoais? A crítica é um caminho usual. Há liberdade e licenciosidade. Os benefícios superam, claramente, os malefícios. O serviço público, aliado ao prazer, se for a opção, como penso dever ser, tem variáveis: denúncia, alerta, explicação, informação, disponibilização, facilitação. Os melhores blogues não são inimigos, talvez sejam da mediocridade e da incompetência (o alvo são os políticos, os jornais e os artistas), procuram a qualidade e disponibilizam-na, predispõem-se ao debate, muitas vezes, como especialistas, ajudam à formação ou sedimentação da opinião. Não substituem livros ou conhecimento, são preciosos nas indicações e fundamentais na responsabilização. Não são panaceia para os males da democracia sem participação, nem varinha mágica da cidadania. Podem ajudar. Sérios, mas não demasiado. Finalmente, o Blogarquipélago existe? A realização de encontros nas Furnas, e em Angra, e a sua divulgação na comunicação social, pode fazer crer que sim. Tenho dúvidas. Existem blogues, são precisos muitos mais e melhores. O blog não é uma normalidade na vida azorica. O virtual é espaço da geração que aí vem mas que está a crescer para/na polis. Os blogues não cumprem o seu potencial, cumprimentam-se. Escrevem na rede, mas não inscrevem uma rede. Nos blogues como nas ilhas? Talvez, ainda…
Sé, 12 de Março de 2007
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