domingo, novembro 12, 2006

VERDADES INCONVENIENTES

A verdade sobre a crise climática é inconveniente porque significa que vamos ter de mudar a maneira como vivemos” Al Gore (*)

Há pelo menos 30 anos que se provou cientificamente que a actividade humana tem impacte sobre a nossa atmosfera. Em 1985, com o protocolo de Montreal, concertou-se uma acção internacional que permitiu a eliminação da emissão de clorofluorcarbonetos para a atmosfera. Desde então a comunidade científica não tem parado de divulgar estudos que provam que o Homem está a alterar o clima. Na política internacional constitui-se, em 1988, um grupo de trabalho entre a ONU e a Organização Metereológica Mundial: a Comissão Intergovernamental para a Alteração Climática (CIAC) (1) que se destina a fornecer aos decisores políticos perspectivas fundamentadas das alterações climáticas e das suas causas. Em 1990 a CIAC declarou que a ameaça da alteração climática era real, sendo necessário um tratado mundial para fazer frente ao problema. A Convenção-Quadro da ONU sobre alterações climáticas é acordada em 1992 e, logo, em 1995 se sentiu necessidade de se estabelecerem objectivos mais compulsivos. O Protocolo de Quioto surge em 1997 com metas até 2012. O último relatório da CIAC, em 2001, é fruto de um trabalho de 122 orientadores e 515 colaboradores e a investigação foi analisada por 337 especialistas (2).
Enquanto a comunidade científica mundial se atarefava em volta destas preocupações a «sociedade civil» começou a tomar como suas as causas do aquecimento global e das alterações climáticas. Desde que me conheço que ouço falar de grupos ambientalistas e das suas posições questionadoras das políticas públicas. No entanto, ainda que fundamentados em estudos e comprovações científicas, os «ambientalistas» sempre foram encarados, pela maioria, como marginais política e socialmente.
Bom, este arrazoado tem por objectivo justificar o meu espanto com a reacção mundial ao documentário de AL GORE: Uma Verdade Inconveniente (3) ou com o recente RELATÓRIO STERN (4) encomendado pelo governo britânico. Gore será um exemplo de marketing bem conseguido (talvez a melhor forma de levar a mensagem a cidadão comum). Quanto a Stern, alguns fundamentam o mediatismo porque pela primeira vez foram apresentados números oficiais para o custo do que andamos a fazer: 5,5 biliões de euros (5% da riqueza gerada no planeta anualmente)! Contudo, pelo menos, em 2001, Bjorg Lomborg (5) já escrevia sobre isso. Ironia das ironias Al Gore, candidato derrotado do amigo Bush, é convidado a assessorar Tony Blair, em matéria ambiental. Com este trunfo, Blair lidera, de novo, a opinião pública mundial e impõe posições claras da locomotiva europeia. Está, perguntam, finalmente, encontrada a causa global em que a União Europeia pode liderar? E este planeta terá futuro, se cada um de nós (causas do aquecimento global) não consegue (nas decisões que toma quanto ao que compra, nas quantidades de electricidade ou de água que utiliza, nos carros que conduz, na sua forma de vida) tornar-se parte da solução, sem ver provado, à exaustão, por A+B, que tudo se está a complicar? Enquanto escrevo, Nairobi recebe o 2.º encontro dos países que ratificaram Quioto bem como a 12.ª sessão da Conferência dos países que assinaram a Convenção-Quadro sobre alterações climáticas (6). Continuará a ser concebível que as Nações Unidas não possam aplicar sanções aos países que não cumpram a parte que lhes compete nas medidas mundiais de protecção do ambiente? Não sei, hoje apenas consigo dizer que quer Al Gore quer Harold Stern conseguiram provar-me algo verdadeiramente inconveniente: que a comunidade científica, as associações ambientalistas e as instituições internacionais andam sem credibilidade há 30 anos.

(*) Uma Verdade Inconveniente. Ed. Esfera do Caos, 2006
(1) http://www.ipcc.ch/
(2) Peter Singer, Um só Mundo – a Ética da Globalização. Ed. Gradiva, 2004
(3) http://www.climatecrisis.net/
(4)http://www.hm-treasury.gov.uk/independent_reviews/stern_review_economics_climate_change/sternreview_index.cfm
(5) The Skeptical Environmentalist. Cambridge University Press, 2001
(6) http://www.nairobi2006.go.ke/

Sé, 6 de Novembro de 2006