sexta-feira, julho 18, 2008

2028 (em 2995 caracteres)

Escrever sobre o que poderão ser os Açores daqui a 20 anos estaria, para mim, mais no domínio do wishful thinking do que em poderes paranormais dignos de um Nostradamus. Contudo, o momento crítico global impõe-se-me ao ponto de me afastar do fulgor da odisseia espacial. Objectivamente, o que espero dos Açores, em 2028, é que esta região autónoma portuguesa, insular, atlântica, integrada na UE e no (des)concerto planetário dos bens de primeira necessidade, dos produtos energéticos e financeiros, dentro da ínfima margem de decisão e influência da exclusiva responsabilidade do seu Povo, e dos seus representantes, possa continuar a trilhar os caminhos da sustentabilidade, garante única da independência face a condicionantes naturais e políticas. Só que, a desejada consolidação, a longo prazo, da valorização política, económica e social, do nosso espaço, na geoestratégia civil global, está dependente do legado geracional de hoje. Se, em 2028, queremos ser destino turístico mundial, urge a criteriosa preservação dos recursos naturais disponíveis e a (re)qualificação dos serviços prestados e oferecidos. Se queremos ser escala em circuitos comerciais atlânticos, aposte-se em plataformas logísticas marítimas e aeronáuticas, integradas com serviços referenciados internacionalmente. Se queremos auto-sustentabilidade energética, abracem-se a múltiplas fontes renováveis, os incentivos à investigação, a projectos inovadores e a novas fórmulas de mobilidade rodoviária. Se queremos novos pilares económicos, force-se a criação do hiper-cluster de serviços relacionados com o Mar. Se queremos uma “Região Tecnológica”, impõe-se o ensino tecnológico da informação/comunicação e a potenciação privada dos parques tecnológicos projectados. Se queremos valor acrescentado nos produtos, aposte-se na qualificação ambiental dos sectores primário e transformador. Se queremos mais PIB, estimule-se um mercado regional, a qualificação individual, a taxa de participação de mulheres e a capacidade laboral dos mais velhos no mercado de trabalho, incentive-se a natalidade e a mobilidade. Se queremos famílias com rendimentos estáveis, forme-se para o empreendedorismo e para a responsabilidade. Se queremos minorar encargos com a saúde, estimulem-se hábitos de vida saudáveis. Se queremos solidez financeira, defenda-se a fiscalidade regional, o investimento público sustentado e a reorganização da administração territorial. Se queremos as pequenas ilhas menos deficitárias, reforce-se a coesão territorial com novos instrumentos de discriminação positiva. Se queremos ser referência política, reformem-se instituições, estimule-se o pensamento, a intervenção e a representatividade, nacional, inter-regional e internacional. Se queremos “Mais Açores” e menos ilhas, abandonem-se invejas ancestrais formando uma geração solidária na sua História. Se queremos uma sociedade livre, fomente-se a responsabilidade do debate e das palavras. Se, em 2028, queremos ter mais, e ser melhores, hoje conta.

Ponta Delgada, 10 de Julho de 2008

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“Os Açores daqui a 20 anos” é o tema da edição especial do Expresso das Nove que conta com artigos de outros bloggers como Alexandre Pascoal, André Bradford, Francisco Botelho, João Nuno Almeida e Sousa, Nuno Barata, Nuno Mendes, Rui Goulart e a equipa dos Tunalhos.