domingo, dezembro 30, 2007

ZERO À DIREITA (II)

Continuando a análise, iniciada no passado dia 25 de Novembro, à apelidada direita política da Região, é-nos fácil concluir que um projecto de direita, não pode passar pelo actual CDS/PP que, nos últimos 30 anos, apenas, por uma vez, conseguiu desenhar um enquadramento coerente para o todo regional (com 2 anos de validade), e que, sob a capa de uma oposição credível, se remete ao populismo demagógico do reforço do apoio financeiro aos mais idosos e doentes e às acessibilidades das ilhas mais pequenas, continuando a ser uma nau de pequenas ambições pessoais, demasiadamente permeável a oscilações de lideranças nacionais, apresentando-se, nas suas acções e aparições, mais preocupado com a “política real” da sobrevivência das deputações na Terceira e em São Miguel, e agora de um possível resgate no círculo de compensação regional, sem se coibir de, descaradamente, estender a mão, ora à esquerda, ora à direita, em busca de uma âncora que a permanente ausência ideológica e programática nunca lhe poderá garantir.
Assim, a esta “espécie” de direita política (PSD/A e CDS/PP/A) não pode ser pedida uma revolução, associando-a a uma esquerda jurássica que se quer afugentar, nem basta uma reforma, naturalmente insuficiente face ao reformismo mediatizado da esquerda progressista no poder. Incumbir-lhe-ia, antes, iniciar uma ruptura com o passado que obrigasse a uma mudança de mentalidades, comportamentos e processos. Duvidamos, contudo, não só dos méritos dos seus dirigentes e do seu lastro conceptual, como da existência, e exigência interna, de energia suficiente para esse novo paradigma epistemológico. É que, para se planear e defender um projecto de direita nos Açores contemporâneos, já não colhe fazer uso da velha piada política de que «quem não foi de esquerda antes dos 30 anos não tem coração. Quem continua de esquerda depois dos 30 não tem cabeça». Nos Açores, à direita, portanto, ideologia precisa-se! Ideologia que, a meu ver, só pode surgir de uma de três maneiras: havendo uma adesão significativa de novas gerações aos partidos políticos existentes “no mercado”, no sentido de os mudar por dentro, coisa que duvidamos que aconteça uma vez que o status quo partidário permanece blindado; através da formação de um movimento de pensamento (os think tank) ou associação de cidadãos independentes cujo pragmatismo de propostas lastradas ideologicamente possa ser assimilado pela partidocracia existente (veja-se o caso do Compromisso Portugal) (*); ou, finalmente, através do surgimento de um novo partido político com base estatutária e um programa de governo que reflectissem o pulsar dos movimentos globais que acreditam no cidadão, nas suas capacidades e competências, concretizados na defesa da livre concorrência e iniciativa, na responsabilidade e autonomia individual, na subsidiariedade, na auto-regulação, no mérito e empreendedorismo, na ética social e solidariedade, na tolerância e pluralidade e na igualdade de oportunidades.
Ora, se a médio prazo a criação de partidos regionais continua constitucionalmente vedada (quiçá 2009/2010), e mais vedada está pela obrigação do comprovativo da existência de 5 mil militantes para os pequenos partidos (veja-se o exalar do último suspiro do PDA); se aos movimentos de cidadãos continua a ser vetada a possibilidade de representação parlamentar na suposta casa mãe da democracia regional (a Assembleia Legislativa da Região), então, à direita, só pode surgir um movimento de cidadãos cujas propostas, pela sua visibilidade, inovação e pragmatismo, mas, sobretudo, pela sua comprovada validade, coerência e mérito, numa exclusiva perspectiva de serviço público ao colectivo autonómico regional, condicionem ou possam ser assimiladas pelos partidos existentes, a maioria, relembre-se, ao centro-esquerda. Ou seja, contrariamente ao que se apregoa, a existência de um estruturado projecto de direita na Região servirá, sobretudo, e sempre em primeira linha, o sistema político da Região, e não os pequenos interesses do “capital”.

(*) http://www.compromissoportugal.pt/

Sé, 18 de Dezembro de 2007