ZERO À DIREITA
Dizia o escritor espanhol Manuel Vasquez Montalbán que «no final a batalha será entre ex-comunistas e comunistas». Não andará longe da verdade se olharmos um espaço ideológico global dividido entre uma espécie de leninistas de direita, os neo-conservadores, e a esquerda liberal ou reformista, os socialistas de terceira via. Mas as diferenças entre a direita e a esquerda, na Região, são perceptíveis?
Entre nós, os partidos nasceram todos ontem, e 30 anos são um património demasiado recente para fazer história, definir tradições ou deixar valores de referência. Sabido é, no entanto, que perante a proibição constitucional de partidos regionais apenas os dois maiores partidos nacionais deram condições aos seus sucedâneos regionais (PSD/A e PS/A) para prosseguirem um projecto político de cunho autonómico (o PDA foi um fogo fátuo). Tradicionalmente qualificado de direita, mais por conservadorismo da base de apoio do que por genealogia programática, o PSD/A, foi poder durante 20 anos encontrando na igreja alguns dos princípios de que se necessitava e preenchendo a restante vida comunitária com um carisma vagamente idólatra de adoração ao líder (João Bosco Mota Amaral) e com a gestão diária de interesses através do exercício do poder. Fora isso, conseguiu ultrapassar o próprio socialismo democrático pela esquerda com o impressivo dirigismo económico-financeiro presente na subsidiação directa ao investimento e na inesgotável política de obras públicas (tudo a coberto do conceito de «desenvolvimento harmónico»). Com a derrota de 1996 o PSD/A perde, necessariamente, a parte do eleitorado que se lhe ligava por via do poder (ao centro, o eleitorado urbano em crescimento acelerado na Região nos últimos 15 anos é uma massa cinzenta volátil que olha a carteira; à direita, o empresariado procura quem lhe garanta condições de investimento). Restou-lhe o eleitorado conservador não qualificado com representatividade directa nas freguesias rurais, rapidamente conquistado pelo PS/A por mor da segurança social (que paga as pensões) e da solidariedade social que canaliza os fundos públicos, estrategicamente, para a rede público-privada de extensão regional. Juntou-se a isso uma ala dirigente que, no plano das ideias e das pessoas, com o exercício do poder, foi enfraquecendo, pelo que a ténue capacidade de atracção de militantes e de convencimento duradouro também lhes está directamente relacionada. Os programas do PSD/A foram confiados a “funcionários” aos quais também era pedido que conduzissem o combate com o adversário político, ou com o aliado de momento. Consequentemente, os debates de fundo deixaram de ser incisivos fora do círculos dos detentores de mandatos e deixaram de ter qualquer repercussão externa. Um vazio que o apoio de «especialistas da sociedade civil» serviu apenas para mascarar, sobretudo perante a comunicação social. Parece ser, justamente, aqui que reside a crise dos grandes partidos e em especial a do PSD/A. Nem as correntes mais autonomistas, ou conservadoras tradicionais (defendem o trabalho e a família), ou liberais (que nunca se reviram no ideário social-democrata açoriano, mas que defendem a livre concorrência, o empreendedorismo, a responsabilidade individual, o mérito), nem mesmo os aliados dos sindicatos (relembre-se a ligação dos TSD açorianos ao sindicalismo da UGT), procuram um diálogo junto daquele partido. O único esforço visível para alterar o paradigma social-democrata açoriano surge na sua base autárquica que reinventa a subsidiação directa e as obras públicas, através do populismo pragmático, para a prossecução imediata do bem-estar do cidadão: «Ponta Delgada, um concelho feliz!». Eis-nos chegados ao actual PSD/A. Um partido com mais de 9 mil militantes inscritos, mas em que apenas 2800 se disponibilizam a votar na escolha do líder, com um programa político onde continua evidente a exigência de regulação pública da economia, a crença em serviços públicos fortes e correctamente financiados, a defesa do estado social europeu, o ecológico por via do energético e a modernização e descentralização administrativa, ou seja, nada que se diferencie da esquerda reformista no poder. Por isso a Costa Neves apenas tem restado dizer, como tem feito, que fará melhor que o PS/A. Não é suficiente nem convence, é a diferença entre alternativa e alternância. (Continua)
Sé, 20 de Novembro de 2007
Entre nós, os partidos nasceram todos ontem, e 30 anos são um património demasiado recente para fazer história, definir tradições ou deixar valores de referência. Sabido é, no entanto, que perante a proibição constitucional de partidos regionais apenas os dois maiores partidos nacionais deram condições aos seus sucedâneos regionais (PSD/A e PS/A) para prosseguirem um projecto político de cunho autonómico (o PDA foi um fogo fátuo). Tradicionalmente qualificado de direita, mais por conservadorismo da base de apoio do que por genealogia programática, o PSD/A, foi poder durante 20 anos encontrando na igreja alguns dos princípios de que se necessitava e preenchendo a restante vida comunitária com um carisma vagamente idólatra de adoração ao líder (João Bosco Mota Amaral) e com a gestão diária de interesses através do exercício do poder. Fora isso, conseguiu ultrapassar o próprio socialismo democrático pela esquerda com o impressivo dirigismo económico-financeiro presente na subsidiação directa ao investimento e na inesgotável política de obras públicas (tudo a coberto do conceito de «desenvolvimento harmónico»). Com a derrota de 1996 o PSD/A perde, necessariamente, a parte do eleitorado que se lhe ligava por via do poder (ao centro, o eleitorado urbano em crescimento acelerado na Região nos últimos 15 anos é uma massa cinzenta volátil que olha a carteira; à direita, o empresariado procura quem lhe garanta condições de investimento). Restou-lhe o eleitorado conservador não qualificado com representatividade directa nas freguesias rurais, rapidamente conquistado pelo PS/A por mor da segurança social (que paga as pensões) e da solidariedade social que canaliza os fundos públicos, estrategicamente, para a rede público-privada de extensão regional. Juntou-se a isso uma ala dirigente que, no plano das ideias e das pessoas, com o exercício do poder, foi enfraquecendo, pelo que a ténue capacidade de atracção de militantes e de convencimento duradouro também lhes está directamente relacionada. Os programas do PSD/A foram confiados a “funcionários” aos quais também era pedido que conduzissem o combate com o adversário político, ou com o aliado de momento. Consequentemente, os debates de fundo deixaram de ser incisivos fora do círculos dos detentores de mandatos e deixaram de ter qualquer repercussão externa. Um vazio que o apoio de «especialistas da sociedade civil» serviu apenas para mascarar, sobretudo perante a comunicação social. Parece ser, justamente, aqui que reside a crise dos grandes partidos e em especial a do PSD/A. Nem as correntes mais autonomistas, ou conservadoras tradicionais (defendem o trabalho e a família), ou liberais (que nunca se reviram no ideário social-democrata açoriano, mas que defendem a livre concorrência, o empreendedorismo, a responsabilidade individual, o mérito), nem mesmo os aliados dos sindicatos (relembre-se a ligação dos TSD açorianos ao sindicalismo da UGT), procuram um diálogo junto daquele partido. O único esforço visível para alterar o paradigma social-democrata açoriano surge na sua base autárquica que reinventa a subsidiação directa e as obras públicas, através do populismo pragmático, para a prossecução imediata do bem-estar do cidadão: «Ponta Delgada, um concelho feliz!». Eis-nos chegados ao actual PSD/A. Um partido com mais de 9 mil militantes inscritos, mas em que apenas 2800 se disponibilizam a votar na escolha do líder, com um programa político onde continua evidente a exigência de regulação pública da economia, a crença em serviços públicos fortes e correctamente financiados, a defesa do estado social europeu, o ecológico por via do energético e a modernização e descentralização administrativa, ou seja, nada que se diferencie da esquerda reformista no poder. Por isso a Costa Neves apenas tem restado dizer, como tem feito, que fará melhor que o PS/A. Não é suficiente nem convence, é a diferença entre alternativa e alternância. (Continua)
Sé, 20 de Novembro de 2007
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