domingo, outubro 22, 2006

LEVANTA-TE (*)

Muhammad Yunus (1)
Que filosofia de vida levou um Doutorado em Economia a proceder a uma silenciosa mas eficaz revolução na solidariedade mundial? Quebrando o vicioso ciclo da pobreza, através do microcrédito, o Grameen Bank (2) mudou a prática bancária convencional formando um sistema fundado na confiança mútua, responsabilização, participação e criatividade.
Fornecendo crédito aos mais pobres, nas zonas rurais do Bangladesh, sem garantias bancárias, considera-o a arma eficaz para combater a pobreza e catalizador no desenvolvimento das condições sócio-económicas dos pobres que são colocados de lado pelo sistema bancário.
Outra grande inovação no sistema de solidariedade é que dos 6,6 milhões de créditos concedidos, 97% foram a mulheres. Os empréstimos são em pequenos montantes, mas suficientes para financiar as micro-empresas criadas, quer sejam para reparação de máquinas, aluguer de bicicletas, oficinas de olaria ou para compra de vacas leiteiras ou cabras.
O processo assenta na prospecção de potenciais beneficiários formando grupos de cinco onde, no primeiro momento, dois terão acesso ao crédito e os restantes, depois, só com o pagamento das primeiras prestações. Através deste ciclo de responsabilização social e motivação pessoal, com juros de 16%, atingem-se taxas de crédito mal parado apenas de 5%.
O sucesso desta abordagem mostrou que as objecções para emprestar dinheiro aos mais pobres são ultrapassáveis com cuidada supervisão e gestão. Provou-se que os mais pobres são capazes de encontrar ocupação rentável; de pagar o que devem; que conseguem fazer poupança...
A pobreza no mundo é uma criação artificial, que não deve caber na construção de uma civilização. Para tanto, há que redesenhar instituições e políticas, e acreditar, com o Dr. Yunus, que o melhor caminho para a Paz é acabar com a Pobreza.

Jeffrey Sachs (3)
É com naturalidade que vemos um dos maiores economistas mundiais, com obra de 20 anos de luta contra a fome, doença, pobreza e dívida dos países do Terceiro Mundo, no papel de director do Plano do Milénio da ONU (4). Fundados teoricamente n’ «O Fim da Pobreza» (5) os Objectivos para o Desenvolvimento no Milénio tornaram-se, a partir de 2005, orientações globais, quantificáveis, para acabar com a pobreza extrema nas suas várias dimensões (pobreza, fome, doença, falta de abrigo e exclusão social) promovendo a igualdade do género, educação e sustentabilidade ambiental, e os direitos humanos fundamentais (saúde, educação, habitação e segurança).
Acreditando que os Objectivos podem ser atingidos até 2015, mesmo nos países mais pobres, este Projecto global prevê:
1- Erradicar a fome e pobreza extrema (reduzindo para metade o número de pessoas com um rendimento diário de 1 dólar e de pessoas com fome);
2- Alcançar a universalidade da educação primária (garantindo que as crianças de todo o mundo completam a escolaridade primária);
3- Promover a igualdade dos géneros e reforçar o poder social das mulheres (eliminando as discriminações de género em todos os graus de escolaridade);
4- Reduzir em 2/3 a mortalidade infantil até aos 5 anos;
5- Reduzir em 2/3 a mortalidade materna;
6- Combater o HIV/SIDA, a malária e outras grandes doenças;
7- Garantir a sustentabilidade ambiental (integrando os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas dos países, invertendo a delapidação dos recursos naturais e reduzindo para metade o número de pessoas sem acesso a água potável e ao saneamento básico);
8- Desenvolver uma cooperação mundial para o desenvolvimento (perdão da dívida dos países mais pobres, acesso aos produtos farmacêuticos essenciais e às tecnologias de informação/comunicação).
Ao desafio geracional do Director do Instituto da Terra para produzir «poderosas correntes de esperança» e trabalhar «juntos para curar o mundo» devemos responder SIM!

(*) http://www.standagainstpoverty.org/
(1) Prémio Nobel da Paz 2006
(2) http://www.grameen-info.org/
(3) http://www.earth.columbia.edu/about/director/index.html
(4) http://www.un.org/millenniumgoals/index.html
(5) Ed. Casa das Letras, 2006

Sé, 16 de Outubro de 2006