domingo, janeiro 30, 2005

QUA-LI-DA-DE

«Não uses mais do que uma ideia em cada artigo» esta máxima de bom cronista é, para aqueles que pacientemente me acompanham, por mim disciplinada e militantemente incumprida. Pelo que hoje, justificadamente, quero falar de três ideias, mas três que são uma. Porque três é um número mágico para a sustentabilidade económico-financeira da Região (O rapaz ensandeceu!). Devo, contudo, avisar que este exercício não pretende ser um tratado, porque não tenho habilitações para tal, porque escrevo ao sabor da pena e assente em convicções primeiras sobre os desafios açorianos do futuro e os que pilares em que se podem desenvolver. Os pilares desconhecidos, aqueles que cimentam e potenciam a Agricultura, o Turismo e o Investimento Externo, aqueles que representam num só conceito, QUALIDADE: são o Ambiente, a Investigação e Inovação Tecnológica, a Cooperação Inter-regional.
Nunca, como agora, foi tão decisiva uma abordagem a estas colunas do desenvolvimento, que, na minha perspectiva, quiçá sonhadora, constituem os factores de diferença que permitirão a validade da sustentabilidade económico-financeira e sócio-cultural da Região, a médio e longo prazo, evitando que a realidade estruturalmente deficitária que o país atravessa se reflicta e condicione determinantemente o futuro regional.Vejamos, então a transversalidade de todas estas facetas e a sua importância para a Região.
O Ambiente. Outra vez e sempre. É de segura evidência que a vertente ambiental constitui sinónimo de QUALIDADE e, como tal, toda e qualquer política regional deve assimilar este conceito. Deste modo, não é demais lembrar que a idiossincrasia natural dos Açores tem de ser priorizada e maximizada. No sector primário, promovendo políticas ambientais e amigas dos recursos disponíveis, que permitam, quer perpectuar o ambiente singular que podemos oferecer, quer alcançar os produtos rotulados de «marca verde». No leite (com qualidades biologicamente comprovadas), na carne, na agricultura biológica, nos produtos manufacturados e diferenciados que deles podemos extrair, seja em terra com um novo ordenamento territorial, seja no mar, com a pesca sustentada e artesanal, ou como fonte de variados recursos e de uma miríade de actividades secundárias que podemos rentabilizar.
É desta forma que o factor ambiente atravessa não só o sector primário, mas intersecciona directamente no sector secundário e terciário, nas indústrias com produtos diferenciados de QUALIDADE internacional (queijos, iogurtes ou gelados marca «Açores»), no turismo de natureza que é, sem margem para mistificações, aquele que se adequa à Região e que se justifica na singularidade das nossas paragens com potencial para ser internacionalmente julgado e reconhecido. Só esta estratégia nos possibilitará atrair turistas que, à volta do mundo, procurem a QUALIDADE, impulsionando, em segunda via, o sector primário regional obrigando-o à diversificação e à perspectivação de que o futuro se faz com outros olhares e realidades.
Mas a QUALIDADE também se conecta directamente com outra verdade, a do fomento em Investigação e Inovação Tecnológica. O valor extra do leite, das pastagens ou dos efectivos, as avaliações dos potenciais cinegéticos e energéticos, a melhoria nas técnicas de produção e nas estruturas industriais, a disponibilização de informações e serviços em tempo real, tudo isto deve crescer em paralelo credibilizando os esforços que se queiram organizar. Se é com grande ânimo que assisto à aposta e prémio da Região em formação profissional, do mesmo modo vejo o desenvolvimento do ensino politécnico na Universidade dos Açores e a maior proximidade entre a administração regional autónoma e os recursos que aquele centro do saber disponibiliza, e sou um indefectível da construção dos Açores Região Digital, da potenciação e expansão da Rede Integrada de Apoio ao Cidadão (RIAC) e da intranet na administração regional. Isto não só numa perspectiva de reforço e coesão das estruturas internas mas também como contributo decisivo para a efectivação de um terceiro pilar, o da Cooperação Inter-Regional.
Conseguindo lograr os benefícios que esse nível de cooperação trouxe nos últimos anos, mercê do programa INTERREG (Açores, Madeira, Canárias) para a Região, o desafio que fica e que se nos impõe é estender esse tipo de parcerias de, e em, QUALIDADE a outras regiões europeias, e não só (desde que avaliadas de acordo com a nossa realidade), quer para potenciação de investimento externo (capitais financeiros, técnicos e tecnológicos) quer porque nos proporcionam novos mercados para colocação dos produtos regionais certificados. O estabelecer de canais privilegiados de cooperação, através de uma rede paradiplomática assente em vertentes político-económicas, pode permitir à Região realizar mais riqueza sem depender do Orçamento do Estado.
Posto isto, porque a reza já vai longa, ainda que a fé não feneça, para um objectivo último de sustentabilidade económico-financeira regional integrada pela QUALIDADE, urge um Plano Regional do Desenvolvimento Sustentável. Esse instrumento, surgindo fundamentado em estudos e perspectivando metas e objectivos a atingir em 10 anos (prazo razoável para se permitirem avaliações e correcções), dará verdadeira amplitude à visão autonómica que continua a florescer nos corações de muitos. Assim queiramos e consigamos fazer caminho neste 2005 que se apresenta eleitoralmente frenético.
Chego ao fim e reparo que a repeti apenas sete vezes, foram poucas, aqui ficam mais duas: QUALIDADE e mais QUALIDADE!Postits: (http://chaverde.blogspot.com/)