domingo, dezembro 12, 2004

A LEI DO SR. SILVA

Enganem-se aqueles que, perante semelhante título, pensam que estarei a fazer uma crónica de costumes sobre a influência do artigo do sr. Silva (vulgo Cavaco) para a decisão do Presidente da República em dissolver o Parlamento. Como diz outro conhecido actor dessa ópera bufa: “Quero lá saber…”
Antes vou procurar perspectivar a seguinte tese: a aplicação da lei de Gresham (a moeda fraca expulsa a moeda forte) que o sr. Silva fez à vida política portuguesa (os políticos fracos empurram os políticos fortes para fora do leme dos destinos do país), foi um alerta redutor, ainda que legítimo.
Na verdade, o apelo às elites profissionais para a disponibilidade e intervenção na vida pública nacional é um olhar para o topo da pirâmide, não procurando a causa, só atingindo a consequência. É que, a meu ver, o problema não estará apenas, sequer sobretudo, nos políticos, o problema está no povo que os sustenta (sustém e financia). Ou seja, a moeda forte, na lei de Gresham, não é uma classe política forte mas um povo forte. Só teremos melhores políticos se formos melhores cidadãos.
A classe política portuguesa reflecte a atitude de cidadania do português médio (o verdadeiro sr. Silva) que perante os concretos problemas da sociedade, ou questões como a levantada pelo sr. Silva (Cavaco), invariavelmente, responde: “merecemos políticos melhores…”
Esta recorrente máxima aterroriza-me, mas é demonstração da estrutura societal portuguesa onde predomina a lei do sr. Silva (ou Sousa, ou Gomes ou Ferreira, etc): a da falta da instrução, falta de leituras, curiosidade sem cultura, impulso sem oportunidade, experiência sem sabedoria… Os Silvas do país mergulhados num processo colectivo de intoxicação voluntária, que cruzam os braços, já significam mais de 50% de abstenção em actos eleitorais sejam políticos, sejam associativos.
Se a sociedade civil portuguesa for forte, no sentido de estruturada, dinâmica, no sentido de pró-activa perante a realidade, com valores de responsabilidade individual e responsabilização colectiva perante a sustentabilidade dos seus recursos financeiros e naturais no que concerne às gerações presentes mas sobretudo às futuras, coerente no diagnóstico das suas fraquezas e na identificação dos seus remédios, reivindicativa perante os seus representantes, a questão dos maus políticos, naturalmente, deixará de se colocar, porque não sairá legitimada no voto popular, nas estruturas partidárias que condicionadas pela sociedade civil escolherão os melhores. A lei do sr. Silva (Cavaco) não tem lugar num projecto social global que não deixe espaço para a mediocridade.
Aliás, só perante num quadro destes se pode ancorar uma verdadeira reforma do sistema político (aquela que ganha bolor nos corredores da Assembleia da República, para figurar como miragem ou para fazer algumas parangonas noticiosas) que permita em traços gerais:
- A redução do número de cargos políticos;
- As candidaturas a cargos políticos fora das estruturas partidárias;
- A concretização do princípio da subsidiariedade com a redução do Estado (e do mau Estado) a limites mínimos e fundamentais de elemento regulador de uma sociedade moderna.
Não posso, finalmente, deixar de dar uma dimensão regional a estas palavras, isto porque, encontrando-se iniciado o processo de revisão do sistema eleitoral e do Estatuto Político-Administrativo da Região, algumas destas perspectivas (o número de deputados, o seu estatuto remuneratório e de incompatibilidades, as candidaturas independentes) poderão ser concretizadas, confirmando que o impulso da modernidade portuguesa passa, necessariamente, pelo nosso arquipélago.

Postits (http://chaverde.blogspot.com/):
Não deixa de ser com uma certa esperança que leio estas coisas:"Vimos pois com uma obrigação e a consciência de uma vantagem: a obrigação de estudar se as características dos nossos fluidos geotérmicos permitem igualmente outras utilizações para além das nossas actuais e a vantagem de poder contar com a experiência islandesa e assim não repetir os mesmos erros que reconheceram também ter cometido. As portas ficaram abertas para a cooperação, garantiram-nos."
Francisco Botelho (Administrador da EDA, http://entramula.blogspot.com/)

"Projectos bilaterais já se firmaram nas pescas e, em breve, chegará também a vez da agropecuária (...) Carlos César reiterou também a sua vontade de desenvolver o intercâmbio, de lá para cá e vice-versa, de jovens interessados numa experiência de trabalho e estudo, contornando, assim, toda a burocracia de entradas no país. Isso é importante para nós, também para facilitar a cooperação de investigação científica porque os jovens podem mais facilmente vir a Portugal. O protocolo está a ser elaborado e precisamos de um apoio para assegurar que este acordo está assinado antes do Verão."
Patrick Parisot (Embaixador do Canadá em Portugal, Açoriano Oriental de 2 de Dezembro)

Angra do Heroísmo, 3 de Dezembro de 2004